domingo, 24 de junho de 2012

A HARPA




Ainda restava um pouquinho de “noite”, a luz ainda era a artificial. Não olhei ao relógio, mas sabia que era cedo para levantar-me, pois sentia sono ainda, então porque acordara? Concentrando-me no silêncio, ouvi uma música suave que sem pedir licença foi tomando conta das minhas emoções. Do outro lado da rua, dedos delicados, dedilhavam as cordas de uma harpa que sensualmente, acomodava-se ao corpo de um solitário melómano. A combinação de notas parecia sussurrar ao meu romântico coração, palavras cheias de emoções e com uma cifra perfeita pedia para eu fechar os olhos e seguir o ritmo, com passos delicados e lentos, soltar o corpo e me deixar levitar, sentindo, ouvindo, dançando ...  Desenhando uma pista de dança, combinando os passos entre uma colcheia e outra, despindo-se da vergonha, os movimentos vão seguindo-se perfeitos, passando do real ao lúdico, na mais linda coreografia dos sentimentos, expressando toda timidez dos sonhos mais secretos. A imaginação mais atrevida ainda trouxe você para acompanhar-me nessa dança. Sinto-me girar no ar, deslizando em movimentos combinados com os seus, juntos delineamos imagens que só o sonho pode ver e colorir, deixando esse momento ainda mais envolvente com a música que ainda ouço.  Discretamente, o sol insiste em invadir meus devaneios e trazer a realidade átona. Aperto os olhos para continuar nesse delírio, porém percebo que o silêncio foi rompido por outros sons, da poluição sonora do cotidiano e a harpa silenciou as cordas, possivelmente até a próxima madrugada.